Meu Déda escreveu para Dona Cegonha, dois meses depois eu fui entregue, isto sim é qualidade:
Cara Cegonha,
Permita-me chamá-la pelo apelido, visto não saber ou não lembrar do seu nome completo. É um prazer estar lhe escrevendo nesta data (10/05/2009), sei que você já me visitou uma vez, contudo não tivemos a oportunidade de trocar dois dedos de prosa.
Se não estiver lembrando de mim, darei algumas dicas. Sou aquele que você trouxe a vida no mês de março de 1968. Naquele ano o mundo estava uma bagunça, ameaça de guerra entre Estados Unidos e Cuba, envovendo a União Soviética. Na Europa havia um movimento estudantil, com quebradeiras nas ruas de Paris. No Brasil havia sido instituido o AI-5... Bem, como eu disse, estava uma bagunça.
Você me levou até o interior de Goiás, para a cidade Campos Belos, onde uma professora mãe de gêmeos aguardava ansiosamente ficar grávida de uma menina. Pois é, no meio daquela bagunça mundial me deixaste no ventre da minha mãe, logo após as estripulias que ela havia praticado no carnaval com o meu pai. Nove meses depois eu nascia em Brasília, desapontando minha mãe e muito mais ainda meu pai, eles esperavam uma menina. Em seu lugar um menino gordo, cabeludo e dorminhoco havia sido entregue.
Lembrou? Que bom. Saiba que cresci, estudei, casei, tive um filho, casei de novo e pretendo ter mais filhos. Com quem? Com minha amada, ela se chama Mônica, para cá foi trazida no mês de outubro de 1973. Veio loirinha como minha mãe sonhava mas, diferente dos meus pais, os pais dela esperavam um menino, até autorama haviam comprado. Nasceu em Goiânia, no mês de julho de 1974, estava fazendo frio, mas o sorriso dela aqueceu o apartamento daquela maternidade.
Bem, agora que nos apresentamos, vamos aos fatos. Minha amada e eu nos conhecemos em fevereiro de 2004, em pleno carnaval, trocamos olhares em março e abril, começamos a namorar em maio, viajamos juntos às serras gaúchas em dezembro de 2005, em 2006 fui apresentado a família do seu pai nas serras do sul de minas e a levei na fazenda do meu pai (ambos falecidos, mas era o momento de nos apresentarmos oficialmente). Ficamos noivos três anos após o início do namoro. Casamos em dezembro de 2007, viajamos em lua de mel para a Argentina, depois fizemos um tour pelo nordeste brasileiro em 2008 e, no carnaval de 2009, estivemos em Salvador.
Como você deve estar imaginando, fizemos muitas coisas boas nesse período, mas as cartelas mensais do meu amor não permitiam que as portas ou janelas do mundo cegonhal viessem a tona. Contudo, graças a Deus, nosso relógio biológico disparou no mês passado, em seu visor estava escrito que os meus 40 anos alertavam da necessidade de aumentar a produção, sob risco da fábrica fechar e, para a minha amada, foi dito sobre a redução gradual e perigosa da sua produção ovulatr. Enfim, estamos no limite de produção ou da reprodução e desejamos aumentar nossa prole.
Realizado os colóquios iniciais, urgentes e necessários, requeremos um bebê. Um representante de Deus em nosso lar. Uma flor brotando ao nosso lado. Uma luz em nosso viver. Uma extensão do sorriso feminino da minha amada com um pouco da minha altura... Queremos uma criança, homem ou mulher, moreno ou branca, cabelos castanhos ou loiros, olhos castanhos ou pretos, alto ou baixa, sem bunda ou peituda, inteligente ou muito inteligente, sagitariano ou canceriana.... Só queremos que seja um presente de Deus a nós, para criarmos com muito amor e carinho, educando e conduzindo pela vida inteira.
Assim, nobre Cegonha, solicitamos que nos ajude a conseguir este presente e que, no próximo domingo das mães, minha amada já tenha em seu ventre ou nos braços um bebê. Para facilitar vosso trabalho estamos providenciando algumas medidas: paramos o anti concepcional, procuramos profissionais médicos para exames iniciais, estamos nos medicando preventivamente, mudamos nossos hábitos alimentares, minha esposa se proibiu da bebida e eu renunciei do cigarro, estamos planejando a compra da nossa casa e o quarto da nossa criança, compramos um mordedor para o bebê e, a partir de hoje, aumentaremos consideravelmente as visitas a deusa do amor, ao som de melosas declarações iniciaremos nossa parte, dependendo apenas de você complementar o quadro que ora pintamos.
Concluindo o assunto, destacamos que sou um pai amoroso com o meu filho, Felipe, o qual me presenteaste em novembro de 1996 e que nasceu em agosto de 1997; que a minha amada é professora infantil de 26 criancinhas e todos a amam muito, sendo considerada pelos pais dos seus alunos como um “mel”; que sou um filho amoroso com a minha mãe e o fui também com o meu pai; que a minha amada é a filha que minha sogra não queria que casasse, por ser ela não apenas igual a mãe em tudo, mas também sua amiga confidente e companheira de qualquer hora; que noossos parentes e amigos estão nos cobrando um herdeiro; que em nossos genes existem dados os quais muito gostamos mas que no momento não dispomos, tais como olhos azuis, gêmeos, altos... e que somos crentes em Deus, devotos de Maria e seguidores da palavra divina.
Por ser verdade as palavras acima ditas, assinamos abaixo e solicitamos urgência no atendimento do solicitado.
Giovanni & Mônica


